Acordamos com o celular despertando, uma olhadinha rápida na barra de notificações, antes mesmo de sairmos da cama. Durante o café da manhã há quem leia o jornal, a quem ligue a televisão. A caminho do trabalho ou da escola escutamos o rádio e visualizamos placas e outdoors espalhados pela cidade. Chegando ao destino, conversas informais e formais.
Junto a isto, temos os cursos, os workshops, os congressos – situações cada vez mais comuns na vida atual das pessoas.
O que tudo isto nos oferece? Conteúdo, assuntos, dados, enfim: informações.
Percebemos então que nos encontramos em um vasto campo, oceano ou se preferir, universo de informações. Há muitas e várias e infinitas e diversas informações.
E o que acontece quando nos utilizamos muito, mas muito mesmo de alguma coisa? Uma intoxicação! E analisando desta forma que um físico criou o neologismo “infoxicação” – informação mais intoxicação
Este neologismo é de autoria de um físico espanhol: Alfons Cornella em 1996. No final do século passado, o espanhol já chamava a atenção ao fato de existir um excesso de informação disponível às pessoas.
Só para se ter uma ideia, Politi (2021) em um texto na internet, cita um dado da USC – Annenberg Scholl for Communication & Journalism, que relata que os dados circulantes na net equivalem a 174 (cento e setenta e quatro) jornais por dia. Pergunto, quem é capaz de absorver tanta informação?
Monteiro (2021), traz um número mais alarmante. Segundo o médico, o montante de informações que recebemos diariamente por intermédio dos diferentes meios de comunicação pode chegar a cerca de 7.355 (sete mil, trezentos e cinquenta e cinco) gigas, isto é equivalente a um bilhão de livros!
E ainda temos mais um porém nisto tudo: quais são notícias verdadeiras e quais são falsas? Neste universo informativo acabamos nos perdendo pois, por muitas vezes, as dúvidas sobre a verdade ou falsidade de uma notícia pode gerar um impacto muito grande na vida da população. Um exemplo bem atual disto são as fakes news diante das vacinas (quantas pessoas podem ter deixado se proteger pelo medo advindo de informações errôneas?)
Vasconcellos (2020), trata esta dificuldade em sabermos a veracidade ou não de uma informação sob o designo do termo “infodemia”. Assim, o excesso de informações é o fator que dificulta a veiculação de notícias confiáveis. Ficamos perdidos no universo informacional, o que nos demanda energia, fazendo o processo ser fatigante – acesso, excesso, assimilação e checagem da veracidade.
E segundo Cornella (1996), esta dificuldade de digerir o montante excessivo de informações, acrescido da complicação que é a de saber distinguir a qualidade, a veracidade e a relevância de todo este conteúdo, são alguns dos fatores que levam o indivíduo a um quadro de infoxicação.
Outro fator que possibilita o advento de uma infoxicação é o excessivo consumo de energia mental que é necessário para a assimilação de tantos novos dados. A quantia de dados ofertados supera e muito a capacidade humana de os suportar levando o sujeito a um quadro de infoxicação. (CORNELLA, 1996).
Para Politi (2021), o motivo de que não sabermos lidar com tanta informação é que muitas vezes estas são conflitantes. Portanto, reside aí o perigo do desencadeamento de um Transtorno Ansioso entre outras sintomatologias.
Outros estudiosos também se ocuparam a temática do excesso informativo, como por exemplo: o psicólogo David Lewis, que aborda a temática da “Síndrome da Fadiga Informativa” e o arquiteto Richard S. Wurman trouxe a nós a terminologia “Ansiedade de Informação”.
A Síndrome da Fadiga Informativa ocorre quando a pessoa se dedica exaustivamente a leituras, cursos, palestras etc. e sente-se como se ainda isto não fosse o suficiente. O cérebro não possui condições de assimilação de tantas informações, então sintomas como: tensão, estresse, sonolência excessiva ou insônia, irritabilidade, crises de pânico e ansiedade podem ser evidenciados. (VIETTA, 2012).
Já a Ansiedade de Informação, refere-se a angústia sofrida pelo individuo ao querer saber de tudo de forma simultânea; o que é fisiologicamente impossível de ser realizado. (WURMAN, 2001). Este desejo incessante pelo saber, mesmo que na maioria das vezes de uma forma rasa superficial, causa ao sujeito uma sintomatologia negativa, ansiosa, doente.
Butti (2019), traz a mesma ideia da autora acima, entendendo que a ansiedade de informação é responsável por inúmeros males à saúde, levando o indivíduo até mesmo a um profundo estresse.
De acordo com SEGATO (2020), os sintomas que alertam para uma infoxicação são os seguintes:
1) Hiperconectividade: ficar um tempo excessivo conectado aos meios digitais;
2) Dispersão: dificuldade de manter o foco enquanto se está tendo acesso à informação;
3) Dificuldade de Concentração: ocorrência de distração nas atividades laborais e/ou domésticas;
4) Aumento da Ansiedade: distúrbio do sono, taquicardia, tremores etc;
5) Ocorrência de Estresse: nervosismo, tensão muscular, dores de cabeça, entre outros sintomas;
6) Surgimento da Síndrome Informativa: causada pelo consumo excessivo de informações, a um nível em que o cérebro não possui capacidade de processar, causando perturbações no sono, estresse, ansiedade e perda de memória.
Como já citado no decorrer das palavras acima, o excesso de informação pode trazer consigo sintomas relacionados à ansiedade. Tensão, estresse, perturbações do sono, irritabilidade, crises de pânico, quadro de dependência e dificuldades nas esferas escolares, físicas, familiares e sociais, também podem ocorrer.
Também ocorre outras consequências tais como a nomofobia e a ansiedade informacional. (MAZIERO & OLIVEIRA, 2017). Estes autores explicam que “nomofobia” é o medo patológico de ficar sem o acesso as tecnologias informativas e “ansiedade informacional” se refere a necessidade de receber informações e comunicar-se por intermédio de meios digitais.
A infoxicação, como descrita nas linhas acima, apresenta-se como uma variável negativa na saúde mental dos indivíduos, causando inúmeros malefícios como por exemplo: estresse, ansiedade, distúrbios do sono, entre outros. A área da saúde mental, em especial a psicologia, pode e deve abrir maiores espaços para esta temática, tanto no que condiz a prevenção como o tratamento.
Blegler, já em 1989, colocava que a saúde mental deve ter sua ênfase em como as pessoas vivenciam seu cotidiano, a fim de cuidar-se da saúde e não da doença. Assim cabe, à figura do psicólogo, a apresentação deste tema à comunidade, com o intuito de prevenção.
O site Libbs, reúne algumas dicas importantes para que exista uma convivência saudável entre os indivíduos e as informações. São elas: seletividade (procurar informações em fontes de maior confiabilidade); organização do tempo (dedicar-se a uma tarefa por vez reduz o estresse); diminuição de ruídos (retirar notificações – muitas vezes elas acabam funcionando como fator desencadeante da ansiedade); improdutividade (permitir um descanso para o cérebro).
Tais orientações podem ser compartilhadas por profissionais da psicologia em diferentes contextos, justamente com a intenção de prevenção frente a este novo desafio.
É importante que o psicólogo esteja a par desta temática, pois é do cotidiano que o paciente traz suas queixas; é necessário ouvir e contextualizar cada situação, a fim de oferecer a melhor conduta ou caminho para o insight, dependendo da abordagem teórica de cada profissional.
Caso, um quadro de infoxicação seja percebido, cabe ao profissional psicólogo verificar qual ou quais áreas estão sendo prejudicadas (qualidade das relações sociais, pessoais, profissionais ou familiares), quais os sintomas da infoxicação estão se manifestando e junto ao paciente, traçar a melhor forma da conduta psicoterapêutica.
BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevista e grupos. São Paulo: Martins Fontes. 1989
BUTTI, Irene. Ansiedade de Informação. 2019. In: https://administradores.com.br/artigo/ansiedade-de-informacao Acesso: Jun. 2021
CORNELLÀ, A. Como darse de baya y evitar la infoxicación en Internet. Extra! – Net. Revista de Infonomia. 1996.
LIBBS. Como controlar o excesso de informação. 2021 In: https://www.libbs.com.br/falarpodemudartudo/dicas-para-controlar-o-excesso-de-informacao-no-dia-a-dia/ Acesso: Jun. 2021
MAZIERO, M.B; OLIVEIRA, L.A. Nomofobia: uma revisão bibliográfica. 2017In: https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/acbs/article/view/11980/pdf Acesso: Jun. 2021
MONTEIRO, Antonio. Infoxicação: mais um mal da modernidade. 2021. In: https://santamaria.org.br/infoxicação-mais-um-mal-da-mordenidade Acesso: Jun. 2021
POLITI, Cássio. Infoxicação: os riscos causados pelo excesso de informação na internet. 2021 In: https://portal.comunique-se.com.br/infoxicação. Acesso: Jun. 2021.
SEGATO, L. INFOXICAÇÃO – O excesso de conectividade pode estar nos adoecendo? 2020 In: https://pt.linkedin.com/pulse/infoxica%C3%A7%C3%A3o-o-excesso-de-conectividade-pode-estar-nos-luana-segato . Acesso: Jun. 2021
VASCONCELOS – SILVA, PR; CASTIEL, LD. COVID-19, as fakes news e o sono da razão comunicativa gerando monstros: a narrativa dos riscos e os riscos das narrativas. 2020In: https://www.scielo.br/j/csp/a/d6ZXNpddtmjgNjRtKMDY4bR/?lang=pt . Acesso: Jun.2021
VIETTA, Edna P. TAG: Síndrome da Fadiga Informativa Síndrome do Excesso de Informação. 2012. In: https://ednavietta.wordpress.com/tag/sindrome-da-fadiga-informativa/ Acesso: Jun. 2021
WURMAN, R.S. Ansiedade de Informação 2. 1ªEdição. Editora Cultura. 2001